Chefe é coisa tão velha que deveria estar no museu, ou melhor, no hospício. Calma pessoal eu explico.
Já vai longe o velho modelo Fordista em que os seres humanos eram treinados exclusivamente para repetir tarefas mecânicas, suando às bicas mesmo e, pior ainda, tendo por feitor aquela figura bizarra do chefe.
O chefe acredita que o problema são as pessoas. Quando tudo vai bem tanto melhor. Munido de milhares de relatórios o chefe vai à sala do patrão e presta contas do seu desempenho. Nas reuniões é o mais tagarela de todos, sempre copiando alguma ideia ou atitude de outros que diz ser sua para sair bem na foto. Definitivamente o chefe é uma praga como diz Aly Baddahuy.
Enquanto a equipe se arrasta pelos corredores ou se esconde atrás das gôndolas, o chefe arruma a gravata e degusta o belo cafezinho habilmente preparado ao seu gosto por aquela figura invisível chamada “como-é-mesmo-o-nome-dela?”.
Chefe que é chefe vai a convenções, estuda nas melhores escolas, tem os melhores planos de saúde do mundo ganha mais do que tudo mundo e se considera o suprassumo do saber. Não há assunto algum que escape de seu vasto conhecimento adquirido em recortes de revistas americanas ou em livretos ordinários de autoajuda adquiridos com recursos da empresa para “melhorar o acervo disponível” aos funcionários, afinal essa gente não estuda e, pior ainda, não quer trabalhar.
Funcionário bom é aquele que não cria problemas e que sempre recorre ao chefe para resolver todas (eu disse todas!!!) as situações. Afinal já diz o ditado: Manda quem pode e obedece quem tem juízo.
Reunião, quando tem, é para discutir a falta de compromisso dos empregados que ganham salário, não gostam de trabalhar, são cheios de direitos e mal agradecidos porque afinal deviam levantar as mãos para os céus porque o chefe ainda lhes permite ter um emprego.
A má notícia é que a figura do chefe anda bastante desgastada. Há inclusive uma turminha que se reúne toda manhã para discutir processos na sala de planejamento e que está preparando uma verdadeira arapuca para o chefe. Mas graças aos seus fiéis informantes o chefe que sempre chega depois e sai antes dos horários preestabelecidos, já preparou uma cama para esses abelhudos dormirem: Serão todos demitidos antes do Natal. Afinal de contas Natal é tempo de vender, de agradar o patrão com números fantasiosos e contratar mais gente, porque gente é simplesmente um detalhe, uma peça enguiçada no contexto das organizações.
Chefe de verdade não tem essas frescuras de estimular, inspirar, ensinar, orientar. Isto é coisa para teóricos e na prática, todo mundo sabe, a teoria é bem diferente. Chefe que é chefe se orgulha de trabalhar com eunucos mentais e gasta o tempo dando enormes gargalhadas quando assina a demissão de mais um abelhudo que ousou pensar. Quando a chapa esquenta o chefe contrata um consultor qualquer, geralmente seu amigo de cervejada, para dar um jeito nesse pessoal que não quer trabalhar.
Alguns meses de consultoria depois todos descobrem que o quadro de pessoal foi enxugado, a Marildinha do caixa 10 já não sorri mais. O Francisco da Padaria nem olha nos olhos do cliente com medo de ser mal interpretado. O Ronaldo da entrega, já nem cumprimenta mais os clientes que fez amigos nos últimos anos porque isso é invasão de privacidade. E assim o clima organizacional embolora, os cérebros se embotam, a turminha criativa vai embora e a organização padece com doentes endêmicos caminhando por corredores obscuros e vazios.
O chefe continua lá, ostentando sua tabuleta de manda chuva até o dia em que as pessoas escandalizadas, não voltam mais, não compram mais, as vendas despencam e a única atitude do chefe continua sendo “cortar gastos” – na prática cortar cabeças. Finalmente só resta a sua e aí o chefe vira a lenda da mula sem cabeça. Mas isso já é outra história que eu conto depois.
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